22 de mar. de 2012

Histórico e Apresentação do Projeto


Por Fabrício Tavares


O projeto As estações na cidade: exercício teatral em 4 movimentos tem sua origem na proposta temática sugerida em 2006 pelo ator Moisez Vasconcellos: a vida na cidade sob a influência das quatro estações do ano.
A peça, com duração de 70 minutos, foi apresentada em março de 2007, na Sala de Exposições Antônio Caringe, situada no saguão do antigo Grande Hotel, prédio histórico da cidade de Pelotas-RS, como resultado de um primeiro exercício de pesquisa e experimentação de diferentes linguagens que compõem a cena teatral contemporânea.
Desde então, o grupo Núcleo de Pesquisa Caja 96, composto por Fabrício Tavares (dramaturgia e orientação conceitual), Celso Krause (trilha sonora original), Waldo León (cenografia e iluminação), André Barcellos (criação e edição de vídeo) e Moisez Vasconcellos (coordenação, atuação e criação cênica), têm pesquisado a conjunção dessas diferentes linguagens procurando explorar modos não-convencionais de criação e de experimentação teatral.
Oriundo de uma motivação inicial para a pesquisa em iluminação através de vídeo, conjuntamente com outras linguagens mais tradicionais do teatro, como o texto (a narrativa), a trilha sonora e a cenografia, o projeto ora apresentado caracteriza-se por seu interesse na utilização e no experimento de novas técnicas associadas à linguagem teatral: como a projeção vertical de imagens sobre o espaço cênico.
O texto, a música, a cenografia singular e a iluminação produzida através do vídeo, dão a dimensão e a intensidade dos acontecimentos em cena.
O projeto de apresentações deste espetáculo tem como objetivo geral apresentar o resultado dos quase cinco anos de pesquisa e experimentação com as diferentes expressões que compõem a peça, propiciando também uma reflexão sobre a vida e o mundo contemporâneo, bem como sobre os acontecimentos que deslocam a própria vida de suas dimensões previsíveis.
Conceitualmente, o trabalho se baseia na perspectiva de um teatro em que a tradicional divisão entre público e cena está colocada a partir de uma fronteira bastante tênue. A proximidade entre ambos, neste espetáculo, evidencia-se pela própria cenografia e iluminação da peça: uma caixa retangular de cor preta, construída para 96 espectadores (intitulada Caja 96), coberta com um tecido branco (voal) recebendo imagens de um projetor multimídia, situado em posição vertical a aproximadamente 15 metros acima da caixa. Estas imagens, compostas por um vídeo de 70 minutos (tempo total do espetáculo), vazam sobre o espaço cênico e servem como única fonte de luz para a peça. Sendo assim, o vídeo projetado na tela que cobre a caixa, funciona ao mesmo tempo como vídeo (imagens em movimento) e como única fonte para a iluminação do espetáculo. Destaca-se aqui a singularidade desta concepção cenográfica e de pesquisa em iluminação, concomitantemente à proposta temática do espetáculo junto à concepção artística do grupo: produzir sensações no público que promovam profundas reflexões sobre a vida.
A própria temática do projeto deixa em aberto uma questão geográfica. Construído originalmente na Região Sul do Brasil, o projeto visa também destacar um olhar sobre as quatro estações do ano bem definidas por suas diferenças de clima e temperatura, promovendo assim uma reflexão acerca da influência de cada estação nos corpos em trânsito nas cidades, tanto no Sul como em outras regiões do país. Destacando características de diferença regional acerca do clima, o projeto visa também, para o restante do país, marcado em muitas regiões por temperaturas quase sempre regulares ao longo de todo o ano, uma exposição e uma reflexão acerca das potencialidades do clima na produção da vida e das relações sociais. As estações, desse modo, aparecem como signos dos acontecimentos que são propostos em cena.
Outro conceito bastante importante, que permeia o projeto deste espetáculo, se baseia na figura do narrador como expressão de uma cultura de oralidade perdida nos tempos atuais. O conceito de narrativa, baseado em Walter Benjamin, remete à possibilidade de transmissão de experiências contadas de uma geração para outra. Neste sentido, a condição para a narrativa depende da potencialidade do Homem para vivenciar experiências passíveis de serem narradas, ou passadas adiante a outras gerações.
Aqui a construção da dramaturgia do espetáculo se pauta por uma pesquisa de autores e textos, como Walter Benjamin (em O narrador) e Friedrich Nietzsche (em O nascimento da tragédia).
Desse modo, destaca-se, na proposta do projeto, a concomitância entre aspectos e conceitos tradicionais – de inspiração na leitura nietzschiana da tragédia grega, com suas tensões entre o apolíneo e o dionisíaco – e o teatro contemporâneo – em que a cena compõe-se com aparatos de tecnologia e efeitos do encontro dessas diferentes linguagens, como a música, o texto, a expressão corporal, a cenografia, a iluminação e a profusão das imagens que compõem grande parte da subjetividade contemporânea.

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